DANIELE ELENE CORTE CARDOSO

A presente dissertação analisa as intersecções entre palavra, pensamento e política na noção de democracia de Jacques Rancière. Para o filósofo, há um problema inerente à definição, a saber, como o cálculo político, necessário à produção democrática, abrange a multiplicidade de demandas da população. Em outras palavras, como o governo do demos atende a exigência colocada pelo seu próprio conceito. Esse dado, ou erro de contagem, nos termos do filósofo, é tratado pela tradição, iniciada por Platão e Aristóteles, como um elemento a ser suprimido da comunidade. O dano, ou o excesso democrático, é o que a ciência política elegeu como um problema para o equilíbrio dos ânimos dentro de uma sociedade, ou seja, o princípio de corrosão social. Entretanto, a pretensão à uma objetividade científica, para Rancière, pretende determinar um princípio naquilo que por natureza é indeterminável, o dissenso. Para o autor de A partilha do sensível, a figura política por excelência é o desentendimento, a marca de uma disputa por inserção dentro de uma comunidade de iguais.